Economizar e usar com racionalidade os recursos naturais é exigência de uma vida sustentável.
No prédio corporativo com dezessete pavimentos a solução é combinar diferentes soluções. Há até uma espécie de cérebro pra coordenar os serviços. De acordo com o engenheiro Lucas a automatização reduziu o consumo de energia elétrica nas áreas comuns para trinta por cento do sistema. A potência do ar condicionado é programada conforme o tempo e o número de pessoas numa sala. E o vidro laminado de 8 ml nas janelas é bonito e econômico. “As janelas são vedadas pra garantir conforto térmico e não interferir no ar condicionado, que é controlado em todos os ambientes pela administração do prédio.”
E tem mais! Toda a madeira usada no edifício tem certificação ambiental. Vem de reflorestamento. Nos banheiros o controle de vazão é rígido com opções para diferentes usos. Água da chuva é aproveitada na limpeza e irrigação. Carros elétricos, movidos a gás natural ou a álcool tem vagas preferenciais perto dos elevadores. E os elevadores também são geradores de energia sempre que sobem vazios ou descem cheios. Em valores de hoje o empreendimento custou 8% mais que uma construção convencional. E gera 28% de economia mensal em relação a um edifício comum dos Estados Unidos. A gerente de operações da BP Empreendimentos, Lucélia Monteiro, justifica que “vai chegar um momento em que não vai haver mais recursos. Por isso é importante a consciência do uso com o benefício do custo.”
Mas não precisa começar do zero! É possível ir adaptando a casa ou a empresa e se tornar mais sustentável. No bairro Umbará, um imenso “cata-vento” plantado no ponto mais alto do terreno de uma olaria chama a atenção de quem passa na rua! O empreendedor Sérgio Wosniak posta no gerador de energia eólica para reduzir a conta da energia elétrica usada para mover todo o maquinário em pelo menos um terço! “É o que espero! E se economia for boa mesmo vamos colocar mais! O filho Hector, um entusiasmado técnico em mecatrônica, emenda “a gente pensa em completar com painéis fotovoltaicos pra aproveitar o sol no verão e ventos no inverno.”
A instalação dos painéis capazes de converter a energia do sol em eletricidade já foi concluída na fábrica de equipamentos industriais do bairro Boqueirão. São 168 módulos! A maior planta fotovoltaica do Paraná custou R$ 380 mil e vai reduzir quase a zero a compra de energia. Segundo o engenheiro Ciro Keiti Watanabe a empresa hoje paga em torno de 5 mil reais por mês. “Vamos passar pra R$ 80. Negócio da China!”
A entrada da China na produção em larga escala desses painéis barateou o custo. E facilitou o acesso. Faltam ainda linhas de financiamento específicas e com juros baixos. No Congresso Nacional está em tramitação projeto de lei que permite o uso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para a aquisição e a instalação de equipamentos de geração elétrica em residências. Atualmente o tempo médio para pagar o investimento com a economia na conta de luz leva em torno de seis anos. O engenheiro Leandro Mascari trabalha na Elco, empresa que vem se especializando em oferecer soluções em energias alternativas para consumidores residenciais e corporativos. Pra ele a substituição do consumo da energia gerada comercialmente pela geração própria de energia é ainda mais interessante para o consumidor familiar, que paga a tarifa mais alta. “Em 6 ou 7 anos o investimento se paga e o consumidor pode até ganhar com o excesso de energia gerada.”
Não pagar e ainda ter a satisfação de fazer bem pro Planeta e as pessoas. Sentimento que o empresário Bruno Esperança tem em relação ao consumo de água! “Cada chuva de uma a duas horas acrescenta 15 mil litros de água no reservatório, que hoje tem 35 mil litros.” O valor da fatura caiu sessenta por cento. E a água da chuva se tornou uma aliada também do desenvolvimento das plantas da Esal Flores. O sistema custou R$ 43 mil há cinco anos. E com a economia em apenas um ano e meio já estava pago. A solução na floricultura é profissional. Mas com um telhado de 30 a 50 metros quadrados já é possível manter o armazenamento com até 5 mil litros de água, o suficiente pra abastecer uma casa o ano inteiro. “A gente deixa aqui dentro uma água que ia pra as galerias e voltaria em cheias. É uma parte que a gente consegue resolver!”
Reter a água para evitar inundações é uma estratégia em Curitiba. A cidade criou um sistema de grandes reservatórios em parques, como Barigui e Bacacheri. E agora cobra e apoia a retenção dentro dos terrenos particulares. O diretor do Departamento de Pontes e Drenagens da Secretraria de Obras do município, Wilson Machado, alerta que qualquer proprietário de lote ao solicitar o alvará de construção ou reforma terá a obra analisada. E se ele impermeabilizar mais que 75% da área, será obrigado por lei a fazer a retenção. Grandes projetos, como condomínios, com mais de 3 mil metros devem prever o sistema no projeto original. Mas nem sempre a lei é cumprida! “Esse nosso decreto é moderno, mas a fiscalização é deficiente. Nós não temos condições de sair fiscalizando… E tem as ocupações irregulares, as canalizações de córregos. A fiscalização só ocorre quando a denúncia chega.”
E aí pouco dá pra fazer. Na Secretaria de Meio Ambiente as multas podem variar entra R$ 85 e R$ 500 mil e são aplicadas com o uso de um recurso tecnológico. Antes de aprovar um projeto novo usa-se o levantamento fotoaéreo para comparar a cobertura vegetal do terreno e outras variáveis. O diretor Departamento de Pesquisa e Monitoramento, Marcos Vinícius Pius, diz que “se houver mudanças, o proprietário pode ser multado. E a pessoa que compra o lote assume o passivo ambiental.” Um jeito de se livrar da dor de cabeça é consultar o serviço público antes de fechar negócio. “Nós fornecemos os parâmetros do que pode ser feito com o lote.” Porém, em nome da “justiça social”, o município vem negociando com o meio ambiente. Em caso de regularização fundiária há aprovações em que a margem de mata ciliar dos rios está sendo reduzida de 30 para 15 metros. Isso porque os lotes acabam sendo menores. Uma solução que o Ministério Público não vê assim com tão bons olhos. O procurador Saint Claire Honorato Santos orienta que sempre sejam mantidas as áreas de respiro nas cidades. “Se você reduz tamanho de lotes para 125 metros quadrados, falta espaço para convívio! É necessário deixar área de permeabilidade no solo ao construir.”
A tecnologia ajuda, mas é com pessoas que a sustentabilidade ocorre. Eu fui conhecer um conjunto habitacional voltado para famílias que não conseguiram comprar a casa própria. Moravam em ocupações irregulares ou áreas de risco. No loteamento popular elas tomaram posse não só de construções, mas de moradias que privilegiam o convívio social, a economia de recursos naturais e a geração de renda. É um projeto piloto que demonstra o quanto o poder público pode mobilizar o bem viver. A Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) implementou o projeto em parceria com a prefeitura de Piraquara. Kits de eficiência energética, composto por chuveiro elétrico que tem recuperação de calor, conjunto de lâmpadas fluorescentes e geladeira de baixo consumo foram distribuídos para os moradores do Residencial Madre Teresa de Calcutá. O diretor de programas e projetos da Cohapar, Luciano Machado, estima uma média de mil megawatts/ano de economia com 700 famílias utilizando o kit. “É uma redução de consumo equivalente a 23 mil pessoas, além da redução da fatura de cada morador.”
Na casa de Lurdes Minhone e Cláudio Fiore o kit ajudou, mas a fatura “zerada” tem a participação ativa do casal. “Se tá na cozinha acende aqui, apaga lá” brinca Lurdes. E por que esse cuidado? “Eu acho que isso é da gente, não gosto de desperdiçar nada!” Nem a luz que chega de graça! Na área de serviço o marido improvisou um teto retrátil com telhas de vidro pra ampliar a luminosidade. E no quintal, seo Cláudio instalou um eficiente e barato sistema de captação e armazenamento da água da chuva, com o uso de caixas alimentadas pela água que escorregue da calha, depois de passar por um ralo. “É pra lavar calçada, roupas, banheiro, carro, moto… Tudo da caixa, e sobra!”
Nem todas as famílias do Conjunto Madre Tereza tem a mesma consciência… Pelas ruas é fácil ver o descaso, a falta de cuidado com o ambiente. A assistente social Benedita Rosa faz visitas periódicas para orienta os cuidados com o meio ambiente e bem comum. “Tem famílias que precisa ir sempre. O problema maior tá relacionado com o lixo.” A zeladora Terezinha de Jesus Oliveira mora no conjunto habitacional e reclama “O lixo eles (o município) recolhem, mas as pessoas não ajudam. Fizeram tão bonitinho, mas o povo é relaxado. Tem restos de comida na rua, junta rato. Falta capricho mesmo.”
Pessoas! O poder público deve criar leis, orientar, fiscalizar. Mas só as pessoas podem escolher a realidade em que vivem, o futuro que teremos.
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Esse é o quarto de uma série de cinco textos sobre sustentabilidade em nosso dia a dia. Veja também
O que é ser ambientalmente sustentável?
O lixo de todo dia – Sustentabilidade 2
Soluções em moradia – Sustentabilidade 3
Vivendo o Conceito – Sustentabilidade 5
Pingback: O lixo de todo dia – Sustentabilidade 2 – Gislene Bastos /
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