Negócios inovadores podem surgir por diferentes motivos. Quero contar a história de oito amantes de vinho. Amigos. Moradores do Sul do país. Eles criaram há dez anos uma vinícola – que seria só mais uma com base nas tradições italianas da região – não fosse o desejo de “saborear” o vinho que se propunham a produzir. Ou, produzir um vinho como o que eles gostavam de beber, quase sempre importado. Desafio verbalizado, começou a articulação. Conseguir terra com vocação pra vinhedo, além de identificar e testar espécies de uvas finas, que se adaptassem ao local e permitissem o tal vinho diferenciado. E tinha ainda a construção da sede da vinícola com cavas para dormência da bebida, tonéis, garrafas, taças! Muita coisa. Trabalho para amantes apaixonados mesmo!
E do desejo de inovar nasceu a Vinícola Araucária em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. A localização por si só já é uma declaração de ousadia e contribui para o fortalecimento da produção de vinhos finos brasileiros num território mais amplo. Tradicionalmente esta é uma atividade desenvolvida entre os paralelos 30°S e 50°S, região aonde ficam o Chile, Argentina, Uruguai e o sul do Rio Grande do Sul. A vinícola está dentro do paralelo 25°S, a apenas 40Km de Curitiba, aos pés da Serra do Mar, numa altitude de 980 metros. Atualmente são cultivadas sete variedades de uvas europeias, sendo cinco originárias da França e duas da Itália. Uva com bom potencial é o primeiro passo pra se obter um vinho de qualidade. Diversas variedades vem sendo testadas desde 2007. As características de clima e solo definem quais ficam.
E entre o suco extraído da uva e a bebida pronta pra servir, o caminho é longo na vinícola – que está se especializando em obter vinhos de guarda, que fica anos adormecido nas cavas. Dos barris saem o espumante Poty – uma homenagem ao artista plástico paranaense Poty Lazarotto – e o tinto Angustifólia – referência ao nome científico da árvore que dá nome à Vinícola, a Araucaria angustifolia. Fique registrado que mesmo quem não conhece em profundidade características e formulações apaixona-se à primeira vista pelas duas bebidas…
Meu primeiro contato com a vinícola, e pra minha alegria também com o Poty e o Angustifólia, foi durante a Vindima – a festa da colheita da uva. Os empreendedores abriram vinhedos e vinícola pra falar da produção das uvas, do desafio de obter e adormecer o vinho nas cavas e da satisfação em ver a bebida caindo no gosto apurado do apreciador de vinhos – e também do público mais mediano que se interessa por essa cultura milenar.
A Vindima durou só dois dias. Vai ter novas edições no verão 2017, coloca na agenda! Mas a sede da vinícola abre todos os finais de semana, sempre das 09h40 às 17h. Dentro da propriedade funciona também um restaurante. O Gralha Azul tem à frente o chef Luiz Moura, que se esforça em servir pratos elaborados com ingredientes frescos, cultivados e colhidos ali mesmo ou por produtores das redondezas. Negócio promissor que alia tecnologia e soluções inovadoras com o sabor e os saberes locais. Gera renda na comunidade onde a vinícola está inserida. Pra não correr risco de perder a viagem, mesmo que a paisagem compense, o melhor é fazer reserva por e-mail restaurante@vinicolaraucaria.com.br
Junto a natureza, em meio ao vinhedo, nas cavas onde adormece tranquilamente um vinho sem pressa de ser… Assim, ao ritmo da natureza e com uma ajudinha das pesquisas, a ideia “fora de propósito” se firma como negócio rural inovador na região metropolitana de Curitiba.