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A moderna indústria rural

Agronegócio combina gestão, investimentos e inovação em busca de ganhos
Caminhões carregados. Estradas pavimentadas. Plantas industrias modernas. Em dez dias de viagem pelas regiões produtoras do Paraná eu e o repórter cinematográfico Dionei Santos mergulhamos no mundo do agronegócio. Uma realidade que está muito próxima de quem vive nas cidades – mas pode ser bem diferente do que imaginamos! Nascida e criada no interior de Santa Catarina, e desde os doze anos morando em áreas urbanas, eu conservo lembranças de um campo bucólico, com pequenas propriedades rurais e jardins floridos. Ele ainda existe, mas não é o que se vê trafegando pelas estradas que cortam o estado. São quilômetros de plantações, secadores e silos de grãos, granjas, fazendas de gado. A cada curva, mais do mesmo.
Soja, milho e feijão lideram a produção agrícola no Paraná. Até o final do ano deverão ser colhidas nas lavouras do estado 40 milhões de toneladas de grãos. Só a produção de soja deve chegar a 19 milhões de toneladas, segundo projeção do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (SEAB).  A cultura foi favorecida pelo clima e investimentos em tecnologia por parte do produtor. A produtividade média prevista é de 3.497 kh/ha, 12% superior a do ano passado. A safra de verão. Somando soja, milho e feijão deve fechar em 23,6 milhões de toneladas, Aumento de 16% em relação ao ano passado.  O Paraná também é o maior produtor e exportador de carne de frango. Vende atualmente para mais de 160 países.
Em 2016, entre as maiores economias brasileiras, o Paraná foi o estado com maior crescimento nas vendas externas. A receita chegou a 15 bilhões de reais e 75% desse valor vieram do agronegócio, setor com maior peso nas exportações do estado.

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Soja em grão e carne de frango continuam sendo os principais produtos de exportação do Paraná.

Crescimento voltado ao mercado externo
A China é o maior cliente. Soja em grão e carne de frango continuam sendo os principais produtos de exportação do Paraná. No ano passado houve aumentos significativos também nas vendas externas de carne suína (13%) e de açúcar (12,3%). E o desempenho se mantém em alta. Entre fevereiro e maio, 8,61 milhões de toneladas de soja, farelo e milho devem ser movimentadas nos portos de Paranaguá e Antonina, volume que ficará 10% superior ao do mesmo período do ano passado. Fevereiro foi o melhor mês em carregamentos no porto de Paranaguá. Como 80% da soja que chega ao terminal vem por via rodoviária, encontrar caminhões no sentido litoral é das imagens mais comuns por esses dias.  Além do que é produzido no Paraná, o porto de Paranaguá escoa os grãos colhidos nos principais estados produtores brasileiros, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. O país deve produzir nesta safra 215 milhões de toneladas de grãos.
Por traz do bom desempenho da lavoura está a capacidade de agregar valor à produção com investimentos em pesquisas, insumos e maquinário. O Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes) prevê crescimento de 6,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 2017. E não tem como falar em agronegócio sem envolver o cooperativismo. Conforme a SEAB, o sistema responde por 22,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná e por 56% da produção agropecuária do Estado. As 200 empresas que integram a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) tiveram faturamento no ano passado superior a R$ 70 bilhões, um crescimento de 16,24% em relação a 2015.  O sistema exportou US$ 2 bilhões, investiu R$ 2,1 bilhões e recolheu R$ 1,88 bilhão em tributos.

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Porto de Paranaguá é principal exportador do agronegócio no Paraná. Terminal também registra recordes no desembarque de fertilizantes.

O cooperativismo paranaense está presente em 100 dos 399 municípios, reúne 1,4 milhão de cooperados, 84 mil empregados e gera 2,6 milhões de postos de trabalho. O chefe do Departamento de Economia Rural da SEAB, Francisco Carlos Simioni, destaca que o trabalho integrado permitiu às empresas cooperadas avançar em eficiência e escala no último ano, apesar dos desafios. “Nos municípios mais distantes dos grandes centros de desenvolvimento do Estado, a presença do cooperativismo tem peso elevado no orçamento e na renda”. O Plano 100 divulgado pela Ocepar define estratégias para o setor chegar ao faturamento de R$ 100 bilhões até 2020, com a manutenção de investimentos e o desenvolvimento da agroindústria para agregação de valor à produção. Nos próximos anos o agronegócio poderá chegar a 33% do PIB do Paraná. Em nível nacional o setor contribui com mais de 23% do PIB, gera 30% dos empregos e totaliza 40% das exportações.
Efeito dominó

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Trabalho de coleta de amostras de soja para verificação de qualidade do grão em entreposto da Coopetariva Cocamar, em Maringá.

O agronegócio ajuda na recuperação da indústria! No Paraná o setor industrial encerrou o último trimestre de 2016 com avanço de 3,3% na produção em relação ao mesmo período de 2015, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a dezembro, a indústria paranaense encolheu 4,3%. Queda inferior a 2014 (-5,1%) e 2015 (-8,8%) e ao desempenho da indústria no país, que fechou o ano passado com redução de 6,6%. Na análise do economista Julio Suzuki Júnior, diretor-presidente do Ipardes, a tímida retomada vem impulsionada pelos excelentes números do agronegócio. Na comparação de dezembro com o mesmo período do ano anterior, oito das treze atividades pesquisadas mostraram aumento na produção. Destaque para máquinas e equipamentos (129,6%) – com maior produção de máquinas para colheita e tratores agrícolas – e de veículos automotores, reboques e carrocerias (48,9%). Também se saíram bem os ramos de produtos alimentícios (6,2%), de outros produtos químicos (17%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (24,1%) e de produtos de metal (11,8%).  E só para confirmar, na indústria de alimentos, os destaques ficaram com produtos relacionados ao campo como a fabricação de bombons e chocolates em barras, carnes e miudezas de aves congeladas e tortas, bagaços, farelos e outros resíduos da extração do óleo de soja. Suzuki Júnior prevê um fechamento de ano com interrupção na trajetória de queda da indústria, graças a combinação safra boas, recuperação da economia nacional e ampliação das exportações.
Emprego qualificado

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Linha de produção no frigorífico da C.Vale, em Palotina. Abatedouro movimenta 430 mil aves por dia.

O treinamento de produtores rurais e trabalhadores é uma das ferramentas para aumentar a eficiência no campo. Só o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, treinou 153 mil pessoas no ano passado em quase 7 mil cursos. Davi Gonçalves de Souza é granjeiro em aviários da Copacol, em Cafelândia. Ele frequentou as aulas em Assis Chateaubriand, na mesma região, e aprendeu práticas mais eficientes para produção de aves.”Consigo lotes com melhores ganhos”, garante. O médico veterinário Douglas da Silva é gerente de integração de aves na cooperativa e acompanha o treinamento promovido junto aos cooperados e seus funcionários. Ele ressalta que “novas tecnologias e técnicas de manejo surgem com frequência; o curso é o momento de buscar a máxima eficiência possível”.
Já Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), que nasceu no Paraná, investe por ano 37 milhões de reais para capacitar os novos trabalhadores e gestores do agronegócio. Leonardo Boesche, superintendente Sescoop/PR, enfatiza que o milagre do crescimento das cooperativas mesmo num ano de recessão, como em 2016, passa pela “profissionalização, gestão e preocupação em fazer a coisa certa. É isso que tem feito a diferença.” O cooperativismo desenvolve o setor agropecuário e alavanca investimentos em soluções que colocam o Paraná na linha de frente do mercado.
Em busca do natural
As inovações tornam a produção de animais mais lucrativa e atendem necessidades de consumidores cada vez mais exigentes. Estamos vendo hoje uma reinvenção nas agroindústrias em busca de substâncias e manejos mais naturais. Mesmo em modelos de produção intensivos, como no caso do frango, o rígido controle de visitas tenta manter bem distante a ameaça da gripe aviária. Fomos conhecer a granja do avicultor Mateus Fumagalli, em Palotina. Dos três aviários saem a cada 47 dias 99 mil aves para abate. A alimentação é estratégica.

Vista aérea da granja do avicultor Antenor Fumagalli. Previsão é construir mais três aviários no local. Investimento de R$ 3 milhões.

Milho e farelo de soja são a base da ração, que tem complementos de vitaminas e minerais. O uso de microminerais na forma orgânica vem ganhando espaço como alternativa para ampliar a absorção de nutrientes. Um estudo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, concluiu que é possível suprir praticamente toda necessidade nutricional substituindo todos os microminerais inorgânicos por um terço de minerais na forma orgânica. A explicação estaria na capacidade de absorção e aproveitamento do suplemente pelo organismo, segundo a coordenadora do departamento de Zootecnia da UFV, Melissa Hannas. A pesquisa busca determinar a qualidade mínima para o melhor rendimento nas granjas, evitando o desperdício. O micromineral inorgânico tem como agravante o risco de contaminação do ambiente por metais pesados presentes no nutriente.

Bem tratada o ganho de peso chega a 65 gramas por dia. Também contribuem entre 6 e 8 horas diárias de sono, e o controle da temperatura ambiente que diminui a medida que o frango cresce. Começa em 30°C e cai para 21°C na fase final. Além de ter mais conforto a ave fica mais resistente às doenças – o que evita o uso de antibióticos. “Sanidade, nutrição, ambiência e manejo bem feitos definem o sucesso da produção. O cuidado é diário”, esclarece o zootecnista Mateus Mora, supervisor de fomento avícola na C.Vale.
Automatização na cadeia produtiva

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Um robô eliminou o trabalho humano com as carnes congeladas no fechamento de palets para exportação na C.Vale, em Palotina.

Cortes automatizados, controle de qualidade por raio x e até um robô no fechamento dos palets de carne congelada. Uma das experiências mais curiosas para quem visita um frigorífico é conhecer o túnel de congelamento, espaço onde a mercadoria é preparada para a expedição. A temperatura ambiente dentro da câmara é mantida em 30°C negativos. Sensores a laser controlam o entra e sai das caixas. Cada embalagem permanece dentro do túnel em torno de doze horas. A carne que entra a 6°C é retirada ao atingir 12°C negativos se for par ao mercado interno ou só com 18°C negativos quando vai para exportação. É uma sucessão de esteiras.

No abatedouro que recebe toda a produção dos aviários, em Palotina, atrás de cada evolução tecnológica tem um colaborador muito bem treinado e com melhores condições de trabalho. Não há mais trabalho manual com a carne congelada, por exemplo. Madson Brum era auxiliar de produção. Há dois anos passou por capacitação e assumiu a vaga de operador do túnel de congelamento. Na nova função passou a ganhar 25% mais. Bom resultado também para a cooperativa que em cinco anos viu o faturamento mais que dobrar. Em 2016 a receita da C.Vale fechou em R$ 6,8 bilhões. Com base em inovação e treinamento da mão de obra e gestão a agroindústria destina mais da metade da produção para exportação. Conforme o gerente da divisão de industrialização, Reni Girardi, os frangos produzidos no oeste do Paraná hoje alimentam consumidores em mais de trinta países, incluindo Estados Unidos e Japão.
Soma um pouquinho lá, outro cá…

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O produtor Claudinei Hafemann analisa o desenvolvimento das tilápias à beira dos tanques de produção, em Maripá.

Diversificar a atividade rural faz parte do pacote de boas práticas no campo. O desafio é elevar a renda per capta dentro das propriedades rurais do estado. Um estudo realizado pela Emater e apresentado no começo de fevereiro aponta que a pujança produtiva contrasta com a concentração de renda. 80% do Valor Bruto da Produção (VBP) do Oeste do Paraná, por exemplo, é gerado por 21% dos estabelecimentos na região. E quase metades das propriedades rurais sobrevivem com menos de dois salários mínimos. Ainda assim o VBP da região supera a média do Paraná. No Oeste o VBP/há é de R$ 9,8 mil, enquanto a média estadual é de R$ 4,6 mil. Ao apresentar o estudo o técnico da Emater, Paulo Tascheto, ressaltou que quanto maior a diversificação das atividades numa região, e com a inserção da propriedade no sistema de produção de valor e de distribuição de riqueza, maior é o retorno do ICMS. O produtor rural ganha, e não ganha sozinho.
A aposta do futuro é a produção de peixe em cativeiro. O Paraná já é o terceiro estado produtor nacional, sendo que a tilápia responde por 90% da produção estadual. Na propriedade de Claudinei Hafemann, em Maripá. Em quatro tanques, 68 mil alevinos estão em crescimento. Mas o sobe e desce da temperatura preocupa. No verão, são comuns dias com mais de 30ºC. E no inverno, com frequência os termômetros registram temperatura abaixo de 10º. O peixe sofre, mal se alimenta, não se desenvolve e o produtor perde dinheiro. A ração representa entre 60% e 80% dos custos de produção de pescados. Por isso, a meta é reduzir o tempo de produção. A solução passa pela oferta de produtos com alta qualidade nutricional e pelo controle da temperatura.
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Com adequações no manejo, nos próximos cinco anos, conforme estudo do extinto Ministério da Pesca e da Aquicultura, hoje incorporado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o país pode duplicar a produção de pescados. Já em 2020, os produtores nacionais querem atingir a marca de 2 milhões de toneladas/ano e colocar o Brasil entre os cinco maiores produtores do mundo. Atualmente ocupamos a 12º posição num mercado que movimenta cerca de 600 bilhões de euros/ano.
Os investimentos a C.Vale em Palotina contribuem para o atingimento do desafio. Produzir peixe em cativeiro com temperatura controlada é a aposta da cooperativa – que foi buscar a solução com pesquisadores europeus e brasileiros. Por causa dos recentes reajustes nas tarifas de energia elétrica, a construção dos tanques térmicos ficou para uma segunda etapa, dentro de um ou dois anos. Segundo o presidente Alfredo Lang com a nova técnica será possível produzir tilápia com dois ciclos completos por ano. “Peixe é o novo frango”, comemora. Já na primeira etapa do projeto, a construção de um novo frigorífico especialmente para o beneficiamento de pescados, em Palotina, contribui com a geração de renda na área rural. Serão mais 200 empregos a partir de outubro. Com maior capacidade de abate, a previsão é de mais ganhos nas propriedades rurais. O Claudinei está confiante. “Quanto mais diversificação você tiver, eu acho que sobra um pouquinho lá, um cá…. te ajuda bastante!”

Ganhos de produtividade e propostas de bem-estar animal
Sustentabilidade no longo prazo é a proposta de Taeke Greidanus, em Castro, nos Campos Gerais. Ele produz carneiros reprodutores com melhoramento genético e inseminação artificial. Mas, aos 81 anos ele aprendeu como usar também os ciclos da natureza para obter carneiros cada vez mais saudáveis. Aves e pasto com trevo de quatro folhas são aliados. Os pássaros comem o caramujo nos campos e ajudam a combater a proliferação de verminoses; o trevo de quatro folhas combate fixação do verme na parede do intestino. “É bom ter por aí”, garante o ovinocultor. Num passeio de carona no carro elétrico, usado para inspecionar a criação na propriedade, somos atravessamos a pastagem onde fêmeas inseminadas há 15 dias repousam tranquilas. “Não deixamos nem cachorro por perto para não se agitem”, o que poderia comprometer a gestação. O manejo na fazenda é feito no capricho. Um antigo banhado na área mais baixa foi dividido em piquetes e drenado. A cada dois meses a pastagem tem altura para receber os animais. Comida farta ajuda e complementação nutritiva garantem os lucros. Num caso recente, uma gestação com 32 embriões resultou em 21 carneirinhos nascidos vivos! Quatro foram selecionados para ficar na propriedade. Os demais, ao atingirem oito meses, serão vendidos para pequenos produtores de ovinos. A proposta é produzir reprodutores a baixo custo. “Cerca de 400 reprodutores por ano, afirma o produtor.” O meu custo é o mesmo… Conta é que o pequeno invista o valor de três carcaças de carne para pagar um reprodutor, que poderá cobrir até 40 fêmeas.”

Reduzir custos! O produtor Neri Miguel da Silva compartilha a preocupação número um no campo. Na propriedade em Porto Barreiro, a solução foi investir em rapidez. Maquinário contratado por hora faz a colheita do milho para forragem, ao mesmo tempo em que monta e fecha os silos com alimento do gado no inverno. A silagem ganha qualidade. Uma segurança a mais para garantir a produção leiteira. “É a renda mais garantida. Todo mês tem. Do dia 15 ao dia 20, entra dinheiro”, nos explica o produtor. A máquina forrageira é uma fábrica em movimento. João Bombardelli investiu um milhão e meio de reais na compra. Já tinha outras duas – além de caminhões e tratores. Ele se especializou em prestar serviços aos produtores rurais e cobra por hora 1800 reais. “Nós trabalhamos de 8 a 9 meses. Termina uma região produtora, vai para outra em que a safra é mais atrasada. São até 15 horas de trabalho por dia. João esclarece que o corte e a moagem bem feitos definem o trabalho bem feito. “Se a gente errar um dia o produtor erra 6 meses, um ano!” A máquina robusta tem ajustes finos. O zootecnista Alex Bidoia, que acompanha o trabalho e presta assistência técnica na região diz que a tecnologia ajuda na obtenção da silagem que terá mais aproveitamento pelo gado. “Milho inteiro é perda de dinheiro para o produtor porque o boi, a vaca não aproveitou os nutrientes. Ponto ideal é 32% de matéria seca no grão e vai dar mais resultado no leite, na carne.”

A região Oeste do Paraná produz mais de 1,1 bilhão de litros de leite por ano. A oferta de alimento com alto valor nutritivo é pontual para ampliar a produção. Outro ponto é potencializar a absorção dos nutrientes e a proteção do gado contra doenças. A oferta de leveduras favorece o ambiente ruminal para as bactérias, o que leva a melhor aproveitamento durante a digestão dos alimentos ingeridos. Outro benefício apontado pelos técnicos e fabricantes é que o animal se fortalece contra micotoxinas gerando melhora na imunidade. Keila Viana é zootecnista e atende produtores de leite na Colônia Wittmarsun, município de Palmeira, nos Campos Gerais. Ela destaca que em vacas com alta produção não pode haver erros. “Aditivos, minerais e leveduras num ajuste fino entram como complemento da alimentação oferecida.” Na produção de gado leiteiro e de corte a busca atual também é por modelos e substâncias cada vez mais naturais.
Nós fomos conhecer a propriedade de um dos gerentes da Cooperativa Wittmarsun que, entre outros produtos lácteos, se especializou na produção e venda de queijos finos. São 10 tipos diferentes. E todos com um sabor e um aroma a mais que conquista o consumidor. A rotina de manejo do gado é ponto forte. “Buscamos a condição mais natural possível: pasto, silagem, ração natural para evitar antibióticos e hormônios”, enfatiza o produtor Jefferson Ferst Vieira, orgulhoso com a inclusão do leite produzido na fazenda dele na produção dos queijos da cooperativa. “A seleção é feita no escuro com base em critérios técnicos, só depois divulga-se a origem do leite escolhido.”  Outro diferencial da região é a coleta rápida. Como trata-se de uma bacia leiteira pequena os produtores ficam muito perto da unidade de beneficiamento, o que garante maior qualidade ao produto final. O clima temperado também ajuda a proporcionar conforto aos animais e a pastagem ganha em valor nutritivo. Na propriedade do Jefferson a produção média fica em 34 litros de leite por vaca/dia. Acima da média regional de 28 litros.

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Vacas das raças holandesa e pardo suíço são maioria na produção leiteira na região dos Campos Gerais.

Domínio das informações e inovação tecnológica tornam a produção ainda mais lucrativa. Foi o que vimos na fazenda do produtor Armando Rabbers, na vizinha Castro. O sistema escolhido é o confinamento em tempo integral. Sombra, água fresca e sempre disponível, além de itens que dão um certo ar de refinamento e luxo às estrelas do galpão. Chuveiros programados oferecem banhos refrescantes; coçadores gigantes conferem cuidado extra… E tem ainda mega ventiladores para afastar o calor. Além de pranchas automatizadas que mantém o piso de borracha não apenas macio, mas limpo. Na ordenha a palavra é tecnologia. Um robô faz todo o serviço, desde a identificação e condução das vacas. Ele ainda limpa e identifica cada teta; suga o leite e envia para os tanques. Com os dados que vão sendo armazenados, a máquina só libera a vaca para a ordenha quando há potencial para coleta de pelo menos 15 litros. “É para otimizar a máquina”, nos conta Armando. Desde que a robotização entrou na fazenda, são mais 6 litros de leite/dia por animal. O investimento total no sistema chega a quase R$ 3 milhões e ele garante que compensa. “Tudo que se investe em bem-estar do animal tem retorno em produção.”

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O robô usado na ordena é um dos quatro utilizados no país. Tecnologia permite gestão mais eficaz na propriedade.

Soluções naturais e avanços digitais na produção de grãos

O campo alimenta as cidades. O Paraná tem 90% dos municípios com base rural. E a produção de grãos, carne e produtos agroindustriais no estado ajuda a combater a fome – um desafio que se transformou em desafio global principalmente por causa das mudanças climáticas. É preciso produzir mais sem esgotar a capacidade produtiva do solo. Profundo. Fértil. O solo é o maior patrimônio paranaense. Do café a soja, o Paraná consolidou a vocação de produzir alimentos.
Nos últimos anos, um mosquitinho vem tirando o sono dos produtores de laranja. Semelhante a uma minúscula cigarra, o psilídeo é vetor de bactérias HLB, causadora do greening, doença responsável pela eliminação de pomares inteiros na Flóripa, EUA. A planta contaminada perde os frutos, que caem ainda pequenos, a produção despenca e o suco que sobra temo sabor comprometido gerano a perda de valor no mercado. No Brasil a bactéria foi detectada pela primeira vez em 2004, em pomares de São Paulo. Mas já há registros dela também em Minas Gerais e Paraná. Pesquisadores trabalham para dominar o processo de produção para controle biológico do psilídeo. O trabalho coordenado pela doutora Ana Maria Meneguim, no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Londrina, conta com estufas para cultivo da planta hospedeira das larvas do mosquito, a criação dele e a multiplicação de uma vespa, a Tamarixia radiat, inimigo natural do psilídeo. “Uma tamaríxia é capaz de eliminar até 500 psilídeos”, segundo a pesquisadora a previsão é produzir em larga escala no futuro, perto das regiões produtoras como Paranavaí, para evitar o mosquito em pomares em que não há controle químico.

A solução biológica que vem sendo estudada para o cultivo de citrus é o desejo dos produtores de soja e milho contra um outro bichinho, o percevejo. Ele chupa o grão, que perde qualidade e peso. Pesquisa e assistência técnica mudam o manejo no campo, controlam doenças. É possível reduzir pela metade a aplicação de químicos. Segundo o fitopatologista da Fundação ABC, Senio Prestes, doença é ser vivo e o monitoramento permite a aplicação de defensivos de maneira mais racional. “Utilizando o fungicida de maneira preventiva, usufruindo do residual maior que ele pode nos oferecer e com número de aplicações adequadas.”
Práticas inteligentes têm garantido o bom desempenho nas regiões produtoras de grãos. O fazendeiro Armando Horing começou a trabalhar com o pai na terra há cinco décadas. Conhecimentos acumulados que ele soma a soluções moderna, como a agricultura de precisão, que estuda o solo em pequenas partes e garante a correção de nutrientes de forma equilibrada. Não há mais desperdício de sementes, adubos e defensivos. “Não há mais desperdício de sementes, adubos e defensivos”, comemora o agricultor. Na safra 2015/2016 a produtividade média na região de Terra Roxa, foi de 52 sacos/hectare. Com a agricultura de precisão aumentou para 64 sacos/hectare. “Com tecnologia vamos chegar aos 100 sacos/hectare em 5 ou 10 anos!”

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Imagem das mais comuns. Caminhões e carretas trafegam o dia todo nas estradas transportando a super safra.

Quase trezentos quilômetros distante, em Maringá, Cléber Veroneze Filho também aposta na força da informática para ter produtividade cada vez maior. A colheitadeira tem uma série de dados que cruzados com as análises de solo ampliam o potencial de cada safra. “Com o mapa de produtividade da lavoura é possível comparar com o mapa de fertilidade e determinar problemas pontuais e otimizar os recursos. Quanto menos você perder maior a quantidade de grãos, melhor a qualidade e menos desconto na venda também.”  Ele é da nova geração de agricultores. Agrônomo, está na quinta safra como produtor e descobriu soluções das quais não abre mão! “O que está dando mais diferencial na nossa área é a integração do milho com pastagem, que é a braquiária. A gente tem menor índice de plantas daninhas no solo, usa menos herbicidas e menos calcário. Com a braquiária a região se diferencia em produtividade especialmente em anos secos. O agrônomo Walmir Schreimer, da Cocamar, acompanha o trabalho do Cléber e confirma que a pastagem colabora para a melhoria da qualidade do solo. “Faz mais palha, descompacta o solo e carreia os nutrientes que retornam para a planta.”

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Nas regiões Oeste, Norte Pioneiro e Noroeste não há perda de tempo. Assim que termina a colheita da soja já é feito o plantio do milho para segunda safra de verão.

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O acúmulo de palha no solo é a base do plantio direto.

Nas terras do agricultor Franke Dijkstra, em Castro, a rotação de culturas é a arma para combater os fungos que comprometem a produção de milho. “Você pode tratar o solo com fungicidas, mas é caríssimo! Nós fazemos naturalmente.” O milheto será apenas rolado e depois a área receberá o plantio de uma cultura de inverno, a aveia-preta, que também será rolada e deixada no solo para formação de palhada e proteção do solo. A raiz apodrecendo leva água para o interior e contribui para a proliferação de microrganismos, um dos fatores que contribuem para a fertilidade.
O agricultor nos conta que estudos realizados nas terras da fazenda encontraram “10 ton/hectare de organismos vivos criados neste solo…”  Mesmo em solos bem drenados há limite para a absorção de água. Por isso, o plantio direto nessa região do estado, onde as chuvas chegam de repente e em grande volume, continua avançando. O uso de canos de PVC nos pontos de maior risco de erosão é a conquista mais recente. “Captadores evitam a remoção do solo com chuva excessiva… O excesso tem que ser administrado. Nós reaproveitamos para irrigação da lavoura em períodos de seca.” Dentro da fazenda há um ciclo fechado com o reaproveitamento de água e também dos dejetos da pecuária! “A integração garante que nenhum recurso seja desperdiçado.”
O plantio direto salvou o solo no Paraná. O holandês Hans Peeten prestava consultoria aos produtores dos Campos Gerais lá no começo de tudo, na década de 1970. Em férias no Brasil, ele acaba de visitar plantações na Bahia, Maranhão e Pernambuco. Segundo ele, a tecnologia agora é bem-vinda por causa da condição do solo. “Quem sabe conduzir bem o sistema de construção do solo consegue produzir através de sol, água e boas variedades produtividades fantásticas!”
Trabalho mais seguro, investimentos em infraestrutura, pesquisas, inovação! Essa a receita atual que alimenta o mundo e gera riqueza no campo. Mas é preciso vencer a má distribuição de renda! É urgente recuperar a biodiversidade perdida em décadas de cegueira ambiental e de uso abusivo dos recursos naturais para os madeireiros, a monocultura e a pecuária em larga escala. Uma das propostas que gera maior resultado é a integração agricultura + pecuária + floresta, quase ausente nas terras paranaenses.

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Eu e cinegrafista Dionei Santos em lavoura no Oeste do Paraná. Plantas de milho estavam começando a surgir no solo.

Últimos comentários
  • Gostei muito dos comentários. Eu trabalhei na antiga Coop. Agricola de Cotia. Foi uma pena ela falir. Mas, naquela época (final dos anos 1980) discutíamos muito sobre como aumentarmos os valores agregados das produções. A área de embalagens evoluiu bastante e a agroindústria, como a de ovos em Bastos e a de produtos congelados em São Paulo.
    Eu observo que os produtores de equipamentos para as agroindústrias são muito dispersos pelo pais, naturalmente, dependendo das produções agrícolas regionais e até da cultura local. É o caso da indústria de farinha de mandioca, da laranja, doces e sucos de frutas e etc. Encontramos industrias de máquinas para a industria alimentícia nos grandes centros ou cidades estratégicas. Alguns exemplos são São Paulo, Curitiba, Campinas e interior do estado de São Paulo. Acredito que conhecendo bem os fornecedores e dispondo de um bom conhecimentos de processos será possível aumentar o número das pequenas e médias industrias rurais pelo interior afora.

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