A viagem ao sertão do Piauí tem um significado especial para o designer gráfico Andrei Polessi, fundador, junto com a médica Karina Oliani, do Instituto Dharma. Nesta segunda Expedição Médica VV-Dharma, realizada em parceria com a Volunteer Vacation, ele se divide entre a coordenação de parte das atividades, o registro fotográfico das ações, e uma tarefa extra: a entrega de fotografias impressas para pessoas retratadas durante a missão do ano passado. São 60 imagens, de 60 personagens. A Canon Brasil patrocinou a impressão das fotos, que estão sempre na mochila. Em visitas específicas ou durante os deslocamentos para consultas domiciliares, Andrei se esforça para reencontrar os rostos que se tornaram famosos para toda a equipe.
“Mais que um ato de gratidão ou presente, a ação quer falar do poder da imagem. Muitas dessas pessoas de alguma maneira perderam a conexão com a civilidade. Infelizmente. São pessoas que vivem marginais ao nosso mundo, à sociedade. Não estão incluídas. Não são pessoas ativas e participantes desse mundo nosso.São pessoas que estão aí, colocadas num canto e foram meio que esquecidas nesse processo. A gente acredita que talvez, trazer essa imagem dessa pessoa e ela poder ver essa imagem, se ver numa foto, de alguma maneira pode trazer uma nova ligação com a imagem que ela tem dela. De alguma maneira, trazer uma ressignificação desse humano que existe nela. Ela se ver numa foto, que é algo concreto, tangível, que ela pode pegar na mão, em formato grande. E eu acho que muita gente não se vê há muito tempo. Nem em espelho, nem em foto. Eles não tem acesso a esse tipo de coisa.”
Andrei ainda complementa que, neste contexto, “a pessoa se ver numa foto impressa marca o lugar dela no mundo. Traz de alguma maneira, uma certa dignidade. E da a elas o direito de pensarem ‘eu faço parte desse mundo, eu existo.’ E é isso que a gente quer, de uma maneira subliminar até, muito delicada, tentar resgatar um pouco dessa dignidade, dessa existência, dessa percepção de existência.”
As imagens foram capturadas durante a Expedição Médica VVDharma, em novembro do ano passado, nas comunidades rurais da Serra do Inácio, em Betânia do Piauí, Batemaré, em Paulistana, em Tangue de Cima e área urbana de Acauã. Comunidades onde a pobreza é extrema, com índices elevados de alcoolismo, e quase sem acesso aos serviços de saúde da rede pública. Algumas fotografias foram propositalmente impressas em preto e branco. Caso da imagem da dona Maria ‘Francisca’ da Silva. 62 anos, 6 filhos, 19 netos. Um deles, Vinícius, de 15 anos, tem problemas graves de locomoção e fala causados por uma paralisia cerebral. Dona Francisca cuida de todas as necessidades dele. A primeira entrega foi na casa dela. Ao receber a foto impressa o sorriso foi espontâneo “Eu!” Seguido de uma dúvida em silêncio… e da conclusão “…é eu mesmo.” E da uma gostosa gargalhada. E, de novo, o olhar sério para o rosto marcado e de expressão forte, evidenciado no retrato.
As imagens também irão compor um livro de fotografias, de autoria coletiva, que será lançado ainda este ano. Será a segunda publicação editada pelo Instituto Dharma e trará ainda registros de ações realizadas durante os trekkings solidários até o Campo Base do Everest, no Nepal, e ao Monte Roraima, entre Venezuela e Brasil, e das expedições médicas deste ano ao sertão e em Zanskar, no norte da Índia. Registros de quatro localidades em dois anos de trabalho. Dois documentários audiovisuais também estão sendo produzidos. O que tratará do sertão tem lançamento previsto para março do ano que vem.
Autor da própria história
Ualisson tem 10 anos. E também vai estar no próximo livro do Instituto Dharma. Ele participou de uma oficina de fotografia durante esta segunda expedição. Foi a oportunidade para ele aprender noções básicas de composição e manuseio de câmeras fotográficas. Antes de sair a campo, ele e os amigos da Serra do Inácio, em Betânia do Piauí, discutiram sobre as fotografias que seriam feitas, inclusive desenhando o que pretendiam retratar. Ualisson foi dos mais aplicados em todo o processo. “Ele fez cliques maravilhosos! A ponto da gente se reunir à noite, e ver que talvez a melhor forma de trabalhar a inclusão fosse convidá-lo a fazer parte deste livro.”
Andrei /
adorei Gi!!! Só vi agora!!! Bjs
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Gislene Bastos / Autor /
Ansiosa pra ver o livro, Andrei! 😉
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