Página inicialBlog Escolha VerdeO lixo de todo dia – Sustentabilidade 2

O lixo de todo dia – Sustentabilidade 2

84% dos brasileiros vivem nas cidades. É no espaço urbano que estão os maiores desafios do viver sustentável.
Em média cada pessoa produz por dia 1Kg de lixo. Resíduos sólidos domiciliares descartados de qualquer jeito geram problemas sanitários, colocam em risco a saúde da população com espalhando doenças como a dengue, comprometem o convívio social e a natureza. Só pra ter um exemplo… Aquele copinho descartável usado pra beber café ou água leva em média 100 anos para se decompor no meio natural. Melhor não jogá-lo por aí.
Dentro das casas que nascem muitas soluções! Em Curitiba o Câmbio Verde, desenvolvido pelo município dentro do programa de Coleta Seletiva, incentiva a troca de resíduos sólidos recicláveis por alimentos. A iniciativa tem mais de vinte anos e beneficia a população mais pobre, que vive em bairros afastados da área central. Uma vez por semana, caminhões carregados com verduras e frutas passam pra promover a troca sustentável. Conhecemos dona Ezeli do Pilar fazendo a sopa da neta Aléxia, de sete meses, só com cenoura, batata, brócolis pagos com o lixo que não é lixo. Pra dona Ezeli uma “santa limpeza” uma vez que não deixa mais acumular material sem uso em volta de casa. “E não vai mais pro bueiro, entupir tudo!”

Outros bons exemplos não faltam! Se todos fizessem como a Jéssica Pertilli o custo com o recolhimento de lixo seria mínimo. A especialista em gestão ambiental explica que só os rejeitos devem ir pro aterro sanitário. Resíduos orgânicos ela separa e coloca numa composteira, para usar como adubo na horta e jardim. Já os recicláveis devem ser enxaguados e encaminhados para a coleta seletiva. “Aqui em casa não sai resíduo orgânico pra fora. Então, o município não precisa fazer a logística toda.”

Faz parte da rotina. Todos os dias Jéssica separa e lava os itens que irão para reciclagem.

Faz parte da rotina. Todos os dias Jéssica separa e lava os itens que irão para reciclagem.

Mil e oitocentas toneladas de lixo são recolhidas e levadas para o aterro sanitário todos os dias na capital paranaense. No estado a produção chega a 20 mil toneladas. 70% desse volume vão para aterros sanitários. O descarte irregular é o destino do restante. Implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, e que prevê o fim dos lixões no Brasil, ainda é um desafio. A data limite era agosto de 2014. Mas, está em tramitação no Congresso Nacional uma emenda que estabelece novos prazos para adequação, entre 2018 e 2021, de acordo com o tamanho do município. O procurador de justiça Saint Claire Honorato Santos é enfático ao afirmar que infelizmente “há interesse econômico das administrações públicas, com a contratação de atividades terceirizadas, e os municípios acabam não fazendo a parte deles.” O Ministério Público estima que mais de 100 lixões ainda estejam em operação no Paraná.
O último levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostrou que entre 2003 e 2014 a geração de lixo aumentou 29% no país, índice cinco vezes maior que a taxa de crescimento populacional no mesmo período, de 6%. Só em 2014 foram gerados 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Quase a metade, 41%, foi parar em locais inadequados. A supervisora do Núcleo de Pesquisa e técnica em Logística da Unicuritiba, Liziane Hobmeir, faz questão de lembrar que os resíduos mais preocupantes são aqueles nocivos ao meio ambiente e às pessoas, como lâmpadas, pilhas, pneus. A logística reversa propõem a valorização e reinserção desses materiais na cadeia de produção. “As latinhas efetivamente retornam e são 100% reaproveitadas. A quantidade de energia necessária para reaproveitar é menor que tirar o alumínio de novo da natureza. Em 30 dias a latinha volta ao mercado, se descartada corretamente.” Falta ainda uma cadeia eficiente, definição de quem paga a conta e a consciência de pessoas e empresas para que o fluxo reverso aconteça.

Unidade de Valorização de Recicláveis em Campo Magro, Paraná, recebe material recolhido na região metropolitana de Curitiba pelo programa de coleta seletiva.

Unidade de Valorização de Recicláveis em Campo Magro, Paraná, recebe material recolhido na região metropolitana de Curitiba pelo programa de coleta seletiva.

No caso do lixo eletrônico a lei determina que 17% de tudo o que foi fabricado nos últimos 5 anos volte para o fabricante! E por que ainda não saiu do papel? Pra Liziane, o impedimento está no impasse em relação terá que abrir a carteira. “Qual a responsabilidade de quem e de quanto dentro da cadeia produtiva. Quem vai fazer essa reversa?” Países como Japão e Alemanha colocam uma taxação sobre o produto. Então o consumidor já paga na compra, o custo da logística de retorno. No Brasil o produto final já é muito caro em função da carga tributária. E os empresários do setor entendem que o consumidor deixaria de comprar. Melhor então é dividir a conta com a cadeia inteira. Mas como?
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Os japoneses já descobriram que comprar a chamada “sucata” sai mais barato para a indústria… E compram aqui, do outro lado do mundo! Eu fui conhecer a Hamaya do Brasil, em Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba. A empresa compra celulares, monitores e torres de computador. A desmontagem é feita no Brasil. Só as placas eletrônicas são exportadas. Até 40 toneladas por mês,o equivalente a 2 ou 3 contêineres cheios. Dois meses depois que uma placa entra no barracão, o metal nobre extraído volta ao processo produtivo como matéria prima. O diretor Roberto Itai conta as placas tem metais nobres como ouro e platina. E os preços de compra variam conforme a concentração deles. Uma placa marrom encontrada em televisores e monitores vale R$ 1,58 o quilo. Já aquelas de monitores de LCD vale R$ 23 o quilo, pois tem uma quantidade maior de metais leves…
A empresa conta com uma rede cativa de fornecedores. Gentil Carlos de Freitas é catador e vem pelo menos duas vezes por mês vender tudo o que recolhe na rua. Traz em média entre 20 e 40 placas eletrônicas. “Dá pra tirar uns 3 mil reais, por aí…”, fala ele feliz. O Bruno Rodrigues ganha ainda mais. Ele coordena um grupo de catadores em Florianópolis, Santa Catarina, e toda semana traz uma carga pra venda. “Não é lixo. Pra gente é uma forma de sobreviver. Eu e minha família estamos nesse mercado há 10 anos.”

Gentil confere o peso das placas vendidas e o valor a receber.

Gentil, no centro da imagem, confere o peso das placas vendidas e o valor a receber.

Perceber valor no que há em volta é uma das bases da sustentabilidade. Olha só o que fez o empresário Paulo Peceniski. Dono de uma fábrica de estojos de instrumentos musicais, ele via crescer ao longo dos anos uma pilha do rejeito gerado pelo corte do material… Não sabia mais o que fazer! “Não podia ir pro lixo e fomos buscar soluções… até que achamos um jeito de moer e triturar para montar blocos.” Assim nasceu um tijolo mais leve, térmico e acústico. Solução que evitou o descarte de 300 quilos de EVA por mês – e ainda garantiu a construção da casa do Paulo. Olhando a residência, num condomínio nobre, pronta ninguém diz que a estrutura é feita de “lixo”.
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Paulo trabalhando na produção dos blocos de EVA. Resíduo triturado foi misturado com água e concreto e deixado secar em formas de madeira.

Paulo trabalhando na produção dos blocos de EVA. Resíduo triturado foi misturado com água e concreto e deixado secar em formas de madeira.

O acabamento seguiu a linha tradicional, com concreto e argamassa. E o tempo da obra também foi o mesmo. O custo ficou um pouco acima por causa do processo que precisou ser desenvolvido. Pergunto qual a grande vantagem pra ele… E a resposta foi de quem pratica a sustentabilidade em todas as áreas da vida: “A vantagem é o prazer de saber que não joguei 20 mil quilos de produto reciclável no lixo. E ainda tenho uma casa sólida, maciça.” A família fez questão de manter o propósito do reaproveitamento na decoração. Na área da churrasqueira a mesa foi feita com eucalipto plantado pelo sogro, uma árvore imensa e que forneceu tábuas inteiras para o tampo. E a pedra usada em algumas paredes também veio da fazenda. “Não precisa comprar tanto. Dá pra reaproveitar e viver mais devagar.”
História pra contar pros filhos, netos!

Esse é o segundo de uma série de cinco textos sobre sustentabilidade em nosso dia a dia. Veja também
O que é ser ambientalmente sustentável?

O que é ser ambientalmente sustentável?


Soluções em moradia – Sustentabilidade 3

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Responsabilidade pública e você – Sustentabilidade 4

Responsabilidade pública e você – Sustentabilidade 4


Vivendo o Conceito – Sustentabilidade 5

Vivendo o conceito – Sustentabilidade 5

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