Vamos falar sobre trabalho social, impactos reais e o compartilhamento de ações? Começo esclarecendo. Realizo trabalho voluntário e, eventualmente e cada vez mais, tenho falado a respeito disso, exposto as ações das quais participo e compartilhado as iniciativas de amigos e entidades em que acredito. Por que paro hoje para refletir novamente sobre a questão? Eu acreditava que esse era um impasse que já tinha vencido. Mas, não. Esta semana ainda vi no perfil de um amigo em rede social, uma charge de alguém fazendo selfie enquanto ajudava outra pessoa. Claro que a imagem por si só revolta, nos leva a ver apenas o aproveitamento da “desgraça” do outro para benefício próprio. Uma análise perfeita. E diante dela defendo uma posição de luta para o não compartilhamento e não valorização do agente aproveitador. Temos visto esse tipo de “ação benevolente” desde sempre, a partir de políticos e governantes em busca de voto ou de manutenção de cargos, de empresários ávidos por apoio comunitário diante do desrespeito a alguma legislação, de celebridades e de “pessoas comuns” na esperança de aceitação, notoriedade, satisfação do ego. As redes digitais só multiplicam o que já víamos no dia a dia, mas sem tanta amplitude.
Médico Wagner Santos, do Amazonas, em atendimento voluntário no Piauí.
Se por um lado há mesmo um viés de “celebrização” do esforço pessoal e social voluntário – por outro precisamos admitir que nossa sociedade vive carente de exemplos positivos. Queremos nos espelhar em alguém, real como nós, e que nos faça acreditar que a mudança é possível e acessível a cada um. Vivemos o tempo do propósito, do trabalhar com causa, e as iniciativas que geram impactos reais melhorando a vida de uma pessoa ou de uma comunidade inteira ganham adeptos e defensores. Estou deste lado da força! Fazer o bem não é atitude pra ser escondida, como se devêssemos nos envergonhar de poder ajudar, de nos sensibilizarmos pela dor do outro ou porque vemos oportunidades de geração de riquezas onde a maioria (espero que por bem pouco tempo) ainda só vê desesperança ou oportunismo. Estou do lado de quem vê o copo meio cheio e vai descobrir onde há uma torneira com água – ou perfurar um poço para canalizar a água até o ponto em que o copo está. Estou ao lado de quem acredita e promove a revolução pelo amor. E que ela seja realmente benéfica para todos. Lembro de ouvir meus pais conversando entre eles, quando eu era ainda muito pequena e incapaz de entender as coisas direito, que “dinheiro traz dinheiro.” Então, hoje quero gritar que o bem gera o bem, gentilezas se multiplicam por aí, e ações voluntárias transformam pessoas que juntas promovem outras ações igualmente solidárias e que trarão um novo tempo de bem estar e bem viver.
Conviver e entender. Princípios do trabalho voluntário comprometido com as comunidades locais. Petra Rangel foi a responsável pela farmácia durante a última Expedição Médica VV-Dharma, no sertão do Piauí.
Estou escrevendo sob o combustível do questionamento, mas amparada por uma base sólida de resultados. É preciso comemorar. Trabalhar com propósito tem possibilitado a uma nova geração de empreendedores potencializar ganhos, por exemplo. O chamado setor 2,5 – porque não se caracteriza como uma empresa tradicional, em que a obtenção de lucro é o principal fator de crescimento, e nem se encaixa no modelo do terceiro setor em que estão as organizações não governamentais e entidades beneficentes em geral, experimenta ares de crescimento.
Uma revolução ganha terreno. Acredite! Quarenta por cento das empresas deste tipo atuantes no país foram abertas a menos de três anos. O dado foi levantado pela plataforma Pipe.Social, que entrevistou 579 empreendedores sociais brasileiros. Dinheiro para manutenção das atividades é a principal ajuda necessária (46%), seguida por apoio na comunicação (18%) e mentoria (16%). Está tudo interligado. Consultores auxiliam no entendimento do negócio e indicam caminhos, a comunicação bem dirigida divulga de forma eficiente o trabalho, os propósitos, e o resultado é o engajamento e o aporte financeiro de investidores. Funciona assim com as empresas. Funciona assim com um negócio social que mobiliza esforços em busca de lucratividade pela solução profissional de problemas sociais. Funciona assim com iniciativas voluntárias em que o mais importante é causar impacto na vida das pessoas – de quem recebe e de quem realiza a ação.
Fazer e divulgar a selfie então ganha outra perspectiva. Não se trata do explorar. Mas do se juntar ao outro. Do comemorar com o outro. E dentro dessa perspectiva acredito que trilho caminhos ainda tortos, com a visão muitas vezes embaçada, mas com um ponto de chegada definido. Eu quero ajudar pessoas a transformarem suas vidas – para que elas notem a diferença que são capazes de promover nelas mesmas, na sua casa, nas suas comunidades… pelo mundo todo. Depois de ver a charge da selfie ridicularizada durante a semana, e que me colocou diante da dúvida em divulgar ou não o bem e o amor, hoje recebi a resposta que me leva a seguir comunicando o que acredito. O
vídeo voluntário que produzi junto com os colegas Dionei Santos e Ricardo Costa, sobre o Barco Sorriso, é finalista em uma premiação nacional de jornalismo promovida há vinte anos pela Fundação FEAC, com sede em Campinas/SP. A reportagem foi exibida no noticiário estadual da RIC TV Record TV e mostra como a iniciativa de pessoas anônimas vem mudando a realidade de saúde e qualidade de vida em comunidades de difícil acesso no litoral do Paraná. Um trabalho junto com quem não mede esforços para mudar “um pedacinho que seja” para melhor a vida de outras pessoas.
Voluntários do Barco Sorriso celebram conclusão de atividades em fim de tarde na Baía de Guaraqueçaba, no Paraná. Foto Bruno Santos.
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Barco Sorriso surgiu em 2013 quase como lazer para um grupo de amigos. Ganhou propósito a partir do conhecimento da realidade local e da interação com os moradores. Milhares de pessoas atendidas, adequação de consultas e procedimentos. Vidas amparadas. Gente que redescobre sentido no existir pelos sorrisos que possibilita e recebe. Desconhecidos logo se transformam em amigos e vão se interligando nesta grande força que move o bem. Vamos falar cada vez mais sobre isso? No Paraná, nos confins ou em grandes cidades do Brasil, na África, Índia… Por aí. Aqui. O tempo todo.
Quer saber mais e assistir o vídeo? Acesse
http://escolhaverde.com.br/1075/
Há dois anos também faço a cobertura da Expedição Médica VV-Dharma no Sertão do Piauí.
http://escolhaverde.com.br/expedicao-medica-no-sertao-promove-encontros-e-mudancas/
E veja todas as postagens em
http://escolhaverde.com.br/
JAIME REINALDO NOVAK /
Tudo que você expôs dá “um quilo justo”. Em um “post” que curti, percebi que não se tratava de uma ONG , – que são entidades que não confio, ainda que hajam pessoas corretas envolvidas-; Os tais que agem para motivos que você expôs no seu texto, eu os conheço de longe, conheço a alma desta gente e sei que você não têm nada haver com eles, vejo em você uma pessoa correta, e espero que meu comentário seja um combustível a mais.
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