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Venha conhecer e proteger esse papagaio

O verão é o período de reprodução do papagaio-de-cara-roxa, um patrimônio natural brasileiro que voa sobre mata e baías entre o litoral norte de Santa Catarina e o sul de São Paulo. Por esses meses quem for passear nessa região tem grandes chances de, ao olhar pra cima, se deparar com um casal passando rápido, entretido em conseguir alimento para os filhotes, mas sempre alerta a qualquer ameaça ao ninho.
O papagaio-de-cara-roxa é uma espécie endêmica da Floresta Atlântica – só existe nesta faixa litorânea estreita de aproximadamente 285 km. É por aqui que essa ave busca alimento, se reproduz, faz seu ninho e descansa em dormitórios coletivos. Pra se ter ideia, dentro do  Parque Nacional do Superagui, só numa ilha chegam a dormir mais de 2 mil indivíduos em determinados períodos do ano. Atualmente a população total estimada está em aproximadamente 7.000 indivíduos. A maior parte – cerca de cinco mil aves – vive no litoral do Paraná.
Como muitos brasileiros, minha lembrança de papagaios está relacionada a alguma cena em que um deles era protagonista de frases ensinadas, engraçadas talvez para o conhecimento que tinha na época… Não exatamente uma lembrança feliz. Lembro da casa de uma tia no sítio, em que o “lôro” vivia a tagarelar mandando a dona da propriedade tratar o cachorro ou receber uma visita. Sempre preso. Com os movimentos limitados pelas grades de arame e com as penas das asas cortadas para abortar qualquer tentativa de fuga.
Pois bem. Ao mudar para o Paraná fui apresentada a esse elegante papagaio-de-cara-roxa e ao risco de extinção que enfrentava. A  Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), desde 1998, desenvolve o Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, monitorando anualmente a população da espécie e realizando atividades de manejo e educação para conservação com as comunidades locais. Desde 2013, o censo populacional anual dessas aves passou a ser uma ferramenta para medir a efetividade das ações e o nível de recuperação da espécie.

Técnicos do Programa Papagaio-de-cara-roxa

Técnicos do Programa Papagaio-de-cara-roxa durante aula de campo com alunos da Escola de Conservação da Natureza, no litoral do Paraná. Foto Gislene Bastos

Eu acompanhei uma aula de campo dos alunos da Escola de Conservação da Natureza em 2018. O projeto desenvolvido pela SPVS, que também administra três reservas naturais no litoral do Paraná, oferece capacitação gratuita aos jovens moradores das comunidades vizinhas à Reserva Guaricica, em Antonina – uma das unidades de conservação mantida pela ONG ambiental. Quarenta e seis jovens com idade entre 14 e 21 anos já concluíram o curso e novas turmas estão programadas. De acordo com o último censo do IBGE, realizado em 2010, o desemprego atinge 34,5% dos moradores de Antonina entre 20 e 29 anos. O município com 19 mil habitantes tem 15% da população vivendo longe da área urbana. Conhecer bem de pertinho o papagaio-de-cara-roxa é uma das lições mais importantes para que as populações locais também passem a defender a espécie – e talvez até levar essa luta profissionalmente.

Conforme a última Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, divulgada no final de 2014 pelo Ministério do Meio Ambiente, são 1.173 espécies que precisam de maior atenção para a sua defesa. Nesta última versão, a condição do papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) foi revista pelos técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Saiu da categoria “vulnerável” para “quase ameaçada”. Uma vitória conforme os integrantes da SPVS, que agora trabalham no desafio de desenvolver no litoral sul paulista o mesmo nível de conscientização já desenvolvido no litoral norte do Paraná.

Monitoramento de filhotes papagaio-de-cara-rosa Foto Gislene Bastos

Monitoramento de filhotes papagaio-de-cara-roxa. Foto Gislene Bastos

Em São Paulo,os ambientalistas chegaram de forma organizada em 2013 realizando ações de monitoramento populacional e reprodutivo. Conforme a bióloga Elenise Sipinski, “infelizmente ainda é comum, nessa região, moradores retirarem os papagaios ainda filhotes da natureza para terem em suas moradias. Isso indica que deve ser realizado um intenso trabalho de proteção de ninhos, aliado a sensibilização e informação dos moradores e visitantes”. Para a coordenadora do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Papagaios da Mata Atlântica/ICMBio (PAN Papagaios), Patricia Serafini, a espécie é dependente de ações de manejo para conservação e sem o trabalho de fornecimento de ninhos artificiais e seu monitoramento, o sucesso reprodutivo poderá ser comprometido em curto prazo.

Aula embarcada papagaio-de-cararoxa Foto Gislene Bastos

Jovens moradores do litoral do Paraná durante aula embarcada com técnicos da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Foto Gislene Bastos

O Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa agora integra também o Programa Papagaios do Brasil, com ações de conservação de seis espécies de papagaios com diferentes graus de ameaça. São elas: papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), papagaio-charão (Amazona pretrei), papagaio-de- peito-roxo (Amazona vinacea), papagaio-de- cara-roxa (Amazona brasiliensis), papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha) e papagaio-moleiro (Amazona farinosa). Essas espécies habitam diferentes biomas do país e, além do tráfico, enfrentam a redução do seu hábitat.  As atividades conjuntas foram lançadas em novembro de 2017 para combater o tráfico de aves, principal ameaça às espécies. O papagaio-verdadeiro é a espécie que mais sofre com a retirada de filhotes da natureza por causa da capacidade que tem de imitar a fala humana. Desde 1988, mais de quatro mil papagaios-verdadeiros foram apreendidos pelos órgãos fiscalizadores. Estão previstas ações integradas até 2021. Conheça um pouco mais o Programa Papagaios do Brasil no vídeo abaixo.

 

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