O carro elétrico em debate. Mais ecológicos. Mais amigos do meio ambiente e do nosso futuro. Os sistemas instalados nos veículos elétricos e híbridos reduzem as emissões de gases geradores do efeito estufa (GEE), especialmente o dióxido de carbono (CO2). Esses gases fazem aumentar a temperatura média no planeta – hoje 1°C mais quente que no início da era industrial – o que provoca mudanças no clima. Já existem modelos de motores com emissão zero de GEE sem perda significativa da eficiência e do rendimento do carro. Reduzir o uso do automóvel convencional, com motores a combustão, se tornou um compromisso com a qualidade do clima e a redução do aquecimento global. Um carro médio, movido a combustíveis fósseis como gasolina e diesel, se rodar trinta quilômetros por dia, ao final de um ano, terá emitido gases poluentes que 17 árvores levariam 37 anos para absorvê-los. O planeta não consegue mais lidar com isso. Pesquisas recentes revelam que em São Paulo, 72% das emissões de gases de efeito estufa são provenientes dos carros. No Brasil, três quartos das emissões totais são resultado do transporte individual.
Confira todas as reportagens da série!
- Carro elétrico, híbrido e sustentável: tendência ou necessidade?
- Carro elétrico 2: os planos de 13 fabricantes de automóveis
- Carro elétrico 3: infraestrutura e incentivos fiscais no Brasil
- Carro elétrico 4: a indústria nacional tem vez?
Ampliar o acesso aos carros elétricos e híbridos é uma medida auxiliar na limpeza da cadeia energética. Isso ocorre mesmo com a extração de minérios, como o lítio das baterias, usados no processo produtivo. Mas, para ser verde mesmo, o ideal é que a energia gerada para carregar as baterias também venha de fontes renováveis, como eólica e solar. Especialistas do setor estimam que até 2030 os carros elétricos serão um quinto da frota mundial. Do total de veículos fabricados e comercializados, 70% vão estar totalmente conectados à internet.

O Nissan LEAF ganhou em 2018 o prêmio da Consumer Technology Association como “O melhor em Inovação da CES”

O Ford Fusion está entre os veículos híbridos com mais licenciamentos no Brasil.
A frota mundial de veículos cresce entre 3% e 4% ao ano. Já o mercado de elétricos e híbridos salta 57% ao ano, desde 2012. Ainda assim, em 2017 os elétricos representavam apenas 0,2% da frota mundial, com três milhões de unidades. Os mais vendidos, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), são os modelos puramente elétricos com recarga de bateria em rede elétrica. Dentro do esforço de transição para energias verdes, a China conta hoje com metade de todos os veículos elétricos e com 99% dos ônibus elétricos que circulam no mundo. A fabricação de carros movidos a gasolina e a diesel está com os dias contados na Noruega (2025), Índia (2030), França e Reino Unido (2040). Estados Unidos e China também estão nessa trilha.

Nos Estados Unidos a Tesla só fabrica carros com motores elétricos. O Model Y é o SUV elétrico da montadora americana. O carro tem autonomia de 450 km e capacidade para transportar até sete pessoas e espaço para bagagens.
O setor automotivo é dos que mais precisam adaptar operações e produtos por causa das mudanças climáticas. Adequações nas linhas de montagem para reduzir o uso de recursos naturais, substituição de matérias-primas, investimentos em tecnologias limpas, tratamento de efluentes, logística reversa. As medidas são complementares. Em 2016, o setor de transportes respondeu com 39% das emissões de GEE. Relatório do WWF Brasil indica que o aumento em 10% da frota de veículos elétricos em São Paulo, já equivale a 2,5% da meta para reduzir as emissões com a qual o Brasil se comprometeu no Acordo de Paris. Segundo o coordenador do programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, se a circulação de veículos elétricos no Brasil chegar a 25% do total da frota de veículos de passeio no país até 2030, a redução de emissões seria de 30 milhões de toneladas CO2. Além dos benefícios para o planeta, os carros com motores movidos a eletricidade tem menor custo de abastecimento e a longo prazo, segundo alguns estudos, podem ser mais vantajosos também financeiramente.
Como é feito o pagamento pela energia consumida durante a recarga da bateria veicular?
Os modos variam, mas na maior parte dos casos, um cartão para liberação de recarga nos eletropostos acompanha os carros entregues ao consumidor. A configuração interna direciona a conta para o proprietário. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) já regulamentou a recarga de carros elétricos como um mercado livre de prestação de serviço.
No Brasil os carros elétricos e híbridos ainda chegam ao consumidor com o custo elevado. A forma de tributação e a infraestrutura para abastecimento e manutenção desses modelos são as principais causas. A baixa densidade energética das baterias de lítio combinada em alguns casos a longos períodos de recarga, é outro limitador. Aos poucos, esses empecilhos vão sendo quebrados. Recentemente o governo reduziu a tributação para o segmento. Já a disponibilidade de postos de recarga, e até a capacitação de profissionais para manutenção, depende de parcerias entre governo e iniciativa privada.

Prius, da Toyota, foi lançado em 1997 no Japão e se tornou um dos modelos mais populares entre os veículos elétricos e híbridos. A fabricante espera que até 2022, 30% de suas vendas no Brasil sejam de carros verdes. Isso significa aproximadamente 50 mil unidades dos 170 mil veículos comercializados ao ano.

Os modelos HEVs e PHEVs podem ser até 40% mais eficientes que os modelos tradicionais a combustão interna. Fonte: BNDES
A frenagem regenerativa é dos avanços tecnológicos mais importantes para o rendimento dos elétricos e híbridos. Ao pisar no freio, o motorista aciona a conversão de energia cinética em eletricidade para recarregar a bateria. Isso significa menos tempo, ou nenhum, com o carro ligado à rede energia.
Quem compra um carro elétrico no Brasil?
A Renault é líder em elétricos no Brasil. Entre novembro e março a montadora colocou no mercado cinco carros por mês, só para consumidores finais. No primeiro dia de abril, foi entregue o último veículo 100% elétrico do lote de lançamento do Renault Zoe, aberto em novembro do ano passado, durante o Salão do Automóvel, em São Paulo. O Zoe de número 20 saiu da concessionária Globo Renault em Curitiba, direto para as mãos do casal Fábio e Angela Fillipini.
“Há alguns anos ouvi uma frase muito interessante, de Mahatma Gandhi, que dizia ‘Seja a mudança que você gostaria de ver no mundo’. Com essa ideia construo minha vida ao lado de minha esposa e filhos. Quem adquire um carro elétrico hoje busca um viver de ética com a natureza. Não é somente um carro, é um modo de viver consciente.” Fábi Fillipini
O engenheiro eletricista fundou com a esposa Angela, há 27 anos, a Graphus Energia que oferece soluções para uso eficiente de energia. Antes da compra, o casal fez uma longa pesquisa entre as opções disponíveis no mercado e a oferta de assistência técnica para ter certeza do suporte de uma concessionária. Com o carro já há algumas semana, eles o batizaram de “Buddha – o desperto”. Para Angela dirigir um elétrico é diferente, “trata-se de uma direção de forma meditativa. A ausência de ruído traz paz interior”, sugere ela, que é formada em eletrotécnica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). “Aí já viu porque gostamos do elétrico”, completa Fábio. Com mestrado em energia e ciências térmicas pela mesma universidade, ele viu na aquisição um complemento natural do trabalho que exercem. “Mas tem que reduzir o preço para o carro elétrico se tornar mais atrativo financeiramente.”

O som medido dentro da cabine do Zoe ao percorrer entre 40 e 75 km/h é de 60 a 65 dB. Isso fica entre 2 e 3 vezes abaixo de um veículo tradicional com potência equivalente.
Ainda no mês de abril, um novo lote do veículo será disponibilizado para entrega aos clientes, de acordo com a diretoria da Renault em São José dos Pinhais. As concessionárias que comercializam o Zoe, em Curitiba e São Paulo, são homologadas pela fábrica para fazer a manutenção no Brasil. As empresas precisaram investir em estrutura, ferramentas, pessoas e treinamentos, segundo o diretor geral do grupo Globo Paraná, Luiz Rezende. Outros modelos 100% elétricos da montadora em circulação no Brasil são o Twizy, Kangoo Z.E. e o Fluence, todos comercializados com empresas para projetos de mobilidade zero emissões. Atualmente, o Grupo Renault é líder em veículos elétricos no Brasil e na Europa.
Entrevista com o presidente da Renault do Brasil, Ricardo Gondo
Por que ainda vemos tão poucos elétricos circulando com o consumidor final no Brasil? O preço é o limitador?
O que podemos observar em outros mercados ao redor do mundo, onde há o aumento na presença dos veículos elétricos, é que este crescimento está relacionado com políticas públicas. Na França, por exemplo, em função da isenção de impostos e de incentivos, o consumidor pode adquirir um veículo elétrico pelo mesmo preço de um veículo à combustão.
O que fabricantes e governos estão fazendo para ampliar o acesso?
No Brasil algumas medidas já foram adotadas para viabilizar a compra dos veículos elétricos, como a redução do IPI de 25% para 8% no caso do Zoe. Há duas semanas o governador do Paraná Ratinho Jr. anunciou a isenção do ICMS e do IPVA no estado. Acreditamos que outras novidades virão para facilitar o acesso à mobilidade zero emissão.
Existe a possibilidade de produzir carros elétricos no Brasil?
Com a comercialização de todas as unidades do primeiro lote de 20 unidades do Zoe, estamos trazendo ao país um novo lote, que já possui clientes aguardando a entrega. Temos em andamento diversos projetos e parcerias voltadas aos veículos elétricos e à mobilidade zero emissão. A decisão de produzir o veículo no país depende da demanda. No momento não há previsão.
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