19 de abril. Escolho essa data, dia com tantos significados, pra compartilhar lembranças da primeira (e ainda única!) visita a uma aldeia indígena no Amazonas, na região norte do país. A aldeia fica a meia hora de barco de Manaus. A proximidade com a cidade faz da comunidade um destino recorrente de turistas que chegam à Amazônia em busca da cultura dos povos tradicionais. Fiz o passeio com um grupo de turistas desconhecidos. E posso garantir que um pouco contrariada. Desconfiada com a exploração comercial. Mas a parada na aldeia integrava o roteiro até o Encontro das Águas. Então…
O que ficou desta tarde? Estranhamento. Depois que o barco atracou no trapiche de madeira, fomos orientados a atravessar a praia de areia muito branca. À frente, um barranco de uns cinco metros de altura, com degraus cavados na terra vermelha. A escadaria natural nos levou a um terreno plano. A aldeia com a moradia das famílias estava à direita. Mas fomos guiados à esquerda, pra dentro de um grande galpão erguido com colunas de madeira de um tronco só, paredes e telhado de palha nativa. Lá dentro uma apresentação de dança. Canções entoadas ao vivo, ritmo marcado pela batida de paus e pés no chão rústico. Homens e mulheres jovens. Bonitos na aparência, nos gestos e olhares. A beleza desses brasileiros tão distantes da cultura do sul chega a ser desconcertante! É uma beleza autêntica, que vai muito além de um músculo definido, pele saudável ou dentes brancos. A dignidade chama bem mais atenção que os adereços e as pinturas pelo corpo.
Confesso que em vários momentos estive incomodada. O fotografar é uma dificuldade pra mim quando envolve desconhecidos. Mas tinha autorização. Algo mais me perturbava naquela tarde… uma equação aberta. O quanto aquela coreografia tinha de verdade, o quanto era apenas uma encenação sob encomenda pra manter o interesse de estrangeiros e brasileiros curiosos? As visitas ocorrem todos os dias, repetidas vezes. O show ritual dura em torno de vinte minutos. No último número os visitantes são “tirados” pra também dançar. E quando termina a apresentação todos tem dez minutinhos pra comprar algum artigo da produção local. É preciso correr. Outro grupo já está atravessando as areias da praia e começa a escalada em nossa direção.
Com muitas perguntas ainda! Com aquele incômodo diante do que não se conhece. Eu divido com você a recordação de uma tarde diante do Brasil indígena que sobrevive do jeito que pode.